quinta-feira, 26 de abril de 2007

O Homem Moderno

Um passa por ela, fazendo a de cinzeiro.
E ela, passiva, nada faz.
Rompem o concreto das calçadas, suas raízes,
Arvores,
Que lutam com a fiação, por um lugar ao sol,
E passa o sujeito, que a confunde com um poste,
Fazendo de lixo a pouca terra ao redor.
E a arvore passiva, nada faz.
Um outro passa, motorizado, combustível fóssil não renovável,
Expelindo pela janela parte de sua natureza descartável,
Parte de sua alma de plástico não biodegradável,
E entopem-se bueiros,
E o meio em que vive se torna um espelho,
A enxurrada leva com ela o barraco do miserável,
E a consciência desse homem moderno.
Passa ali um arremedo de gente, diz-se marido,
Engole a amante, sem garfo, sem faca,
E a patroa em casa,
Cuidando dos filhos e do olho roxo, presente do cônjuge.
E as duas, passivas, nada fazem,
São meros pedaços de carne.
E quando se fala em mudar,
A platéia ri conformada,
Dizendo que não tem jeito não,
Joga o saco da pipoca no chão,
E continua com o espetáculo lá fora,
É carnaval, corrupção,
Cadê a consciência? Cadê a conscientização?
Dinheiro não se come,
E a humanidade só aprende com a indigestão.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

A Terra Do Nunca

Tudo é,
Como as regras ditam,
Todas as regras são,
O principio de um ciclo sem fim,
Onde toda a realidade é manipulada.
Você é cultivado,
Durante a maior parte desse ciclo, sem fim,
Cego e inerte,
Crendo no inexistente.
O fim inexiste quando seus olhos estão fechados.
O que lhe parece uma chuva de verão,
Aos olhos de quem o cultiva, parece ser uma geada.
E porque a geada lhe faz bem?
Porque você floresceu,
Porque você abriu os seus olhos,
E os abriu precocemente.
E não importa quanto tempo demore pra abri-los,
Sempre será uma abertura precoce.
E por que?
Porque sempre há alguém acima de você,
E a abertura de seus olhos não os favorece, pois você será assim, um opositor.
E a nossa existência é hierárquica.
O cargo ocupado por você é irrelevante,
Seus distintivos são apenas uma mascara,
Sempre haverá alguém maior, e com mascaras mais belas,
E sempre haverá engrenagens fabricando mais mascaras por detrás das cortinas.
Solução?
Nunca.
Os maiores que você, e os maiores que os maiores que você,
São, evidentemente, detentores de benefícios maiores que os seus.
Eles elaboram a constituição.
Você obedece.
Mudança?
Depende de sua existência momentânea.
Um dia, não há como evitar, você estará entre os maiores.
Levante-se, canalize esse ódio que você sente momentaneamente,
Por ser só mais um numero, desfavorecido e subtraído,
E revolucione, antes que você cresça e galgue um posto, adquirindo mais uma mascara.
O poder nos conforma.
Solução?
Possível, possível.
Você é a possibilidade.
Não cresça.
Reverta a hierarquia.
Mas nunca, nunca, suje suas mãos com o poder.
Governe, se imponha,
Mas nunca seja um governador.
Solução?
Sim, há uma solução!
E dessa única solução,
Novas sub-soluções subjetivas nascerão.
Solução?
Nasce então, o ‘Absolutismo Igualitário’.
Como?
Uma questão responde a outra:
Você luta pelo que?
Luta por algo contrario ao que é padrão.
E onde chegamos com isso?
Não existe igualdade sem antes existir absolutismo.
Ora pois, tudo está mais claro,
Não está?
Você luta por igualdade, porque existe absolutismo.
E luta por que é desfavorecido.
Chegue ao poder sem obter o poder.
Revolucione e seja absoluto.
Deponha os detentores de poder.
Obviamente, os depostos lutarão para obter seus cargos novamente.
E esse é o ápice:
Da tese e da antítese, nasce a síntese.
Você é a lei,
Você governa,
E qual é o seu ideal?
Igualdade!
Quem são os desfavorecidos agora?
Sim, os depostos.
Quem impõe a lei?
Sim, você impõem a lei.
Lei?
Sim, a lei é igualdade.
E os depostos caem novamente,
E toda a treva que encobria nossa insignificância,
É substituída por luz.
Nunca saiam sem óculos de suas casas,
Pois a luz também cega.
Ora pois,
Se todos somos iguais agora,
Não há razão para que o baile de mascaras continue.
E se não há baile,
Não há razão para que mascaras sejam produzidas,
Assim as engrenagens que giravam por detrás das cortinas,
Param.
A igualdade foi imposta. E por meios absolutos.
E você me pergunta:
Por que os depostos aceitariam a igualdade imposta?
E eu te pergunto:
Você, criatura desfavorecida e guerreira, aceita a igualdade?
Você é livre, e vive em uma sociedade democrática,
Por isso tem direito a resposta,
E então você me responde:
Sim, eu aceito a igualdade.
E se a igualdade tivesse sido imposta?
Você teria direito a resposta?
Imponha-a para descobrir.
Mas você vive em uma sociedade democrática,
E é livre para fazer suposições,
Então,
Suponhamos que a igualdade reina absoluta,
Imposta por você,
Criatura que governa sem ser governador,
Criatura que chegou ao poder, mas não detém o poder,
E eu te pergunto:
Você aceita a igualdade?
Você responde sim?
Não!
Você responde:
Somos iguais!
Ora pois,
Se você é a lei,
E todos somos iguais,
Os depostos aceitam a igualdade?
Resposta:
Tudo é,
Como as regras ditam,
Todas as regras são,
O principio de um ciclo sem fim.
E qual é a regra,
Levando em consideração que lei e igualdade são sinônimos agora?
Igualdade, igualdade e igualdade!
Nunca cresça!
Não deixem que os cultivem, e colham posteriormente, mais uma hortaliça numerada e cega.
Goze da geada que cai, destruindo as lavouras.
E lute pelo seu ideal,
E qual é o seu ideal?
Igualdade!
E por quê?
Porque provavelmente você ainda não cresceu.
Nunca cresça!
A existência de líderes?
Pouco importa!
Se você ainda não cresceu.
O que realmente importa?
A igualdade, e o equilíbrio gerado pela mesma,
Onde todos somos complementos, uns dos outros.

domingo, 8 de abril de 2007

Fruto Sem Caroço

Você nasce,
E é essencialmente vida,
Instintivamente a transformação continua e cíclica de atos em potências.
O sistema o colhe,
Amadurecendo-o artificialmente,
Você cresce,
E é fruto da coerção diária, reprise de televisão,
Obrigatoriamente fantoche, operário cego,
Manutenção cotidiana do maquinário, enteado da alienação.
Você apodrece,
Fruto seco da sociedade, conivente,
Travestindo conformado, a constituição, de liberdade,
Alimentando os reis das barrigas políticas com a comida rápida da globalização,
Número sem face, simpatizante da desigualdade,
Engrenagem transgênica, de um mundo que gira sem eixo,
Automatizado pela desumanidade em constante evolução.